De vez em quando emerge,
parecendo dar razão a todos os antropólogos que, historicamente, têm defendido
que a humanidade tem uma estrutura mental propícia à crença religiosa. Podemos
também analisar o fenómeno num ponto de vista mais sociológico e considerar que
todas as sociedades, por mais laicas que sejam, precisam de “sacralizar”
algumas das suas instituições…
No nosso mundo pós-moderno, são
depois os “media” que realizam ou desfazem esses fenómenos de “sacralização”. Como,
por exemplo, foi bem evidente na cobertura da eleição do novo Papa – como se,
com efeito, tivesse mesmo sido o “espírito santo” a elegê-lo.
Também a mais recente decisão do
Tribunal Constitucional foi vista, por alguns, dessa forma. Desse ponto de
vista, mais formal, o Governo tem razão – todas as decisões do Tribunal
Constitucional podem e devem discutir-se. Tal como as eleições papais, também
as decisões do Tribunal Constitucional são tomadas por maioria, (quase) nunca
por unanimidade. E mesmo que o fossem – também assim poderiam e deveriam ser
discutidas por todos nós.
Não iremos fazê-lo agora. Queremos
apenas chamar a atenção para dois “dogmas religiosos” que persistem na nossa
discussão política: o de que “os partidos são essenciais para a Democracia” e o
de que “Portugal não tem futuro fora da zona euro”. Não vamos também agora
discutir nenhuma destas duas teses. Queremos apenas salientar que são, tão-só,
isso: teses. Não dogmas religiosos que, quais “mantras”, tenhamos que repetir
acriticamente. Na discussão política democrática não devem existir “tabus”.
Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.
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