segunda-feira, 3 de junho de 2013

[Opinião +D] Em França também há palhaços…


O circo indígena continua fulgurante. Esta semana, destaque-se, pelo grau de farsa, a enésima promoção, desta vez por Mário Soares (sim, aquele que, ufanamente, “meteu o socialismo na gaveta”), de uma “frente de esquerda”. Como as restantes, já está devidamente arrumada no caixote do lixo da história, mas sempre deu, por uns dias, para entreter as boas consciências. E, como a memória é, nestes, em geral (muito) curta, em breve, decerto, haverá uma iniciativa análoga. A capacidade de auto-ilusão da nossa “esquerda” é mesmo infinita. Para bem do nosso circo, que não vive apenas de palhaços. Os ilusionistas também fazem falta.

Não nos orgulhemos, porém, excessivamente, do nosso circo. Apesar da sua fulgurância, todas as semanas comprovada, há outros circos que não lhe ficam atrás. Destaquemos, esta semana, o circo francês. Sim, porque em França também há palhaços, a começar por François Hollande, que, num curto espaço de tempo, conseguiu a proeza de defender em público duas posições por inteiro contrárias entre si: no discurso que assinalou o seu primeiro ano de mandato (em que bateu todos os recordes negativos de popularidade), anunciou, com toda a pompa, um “Governo Económico para a Europa”; mais recentemente, perante algumas directrizes da Comissão Europeia (sobre, precisamente, política económica), clamou pela “independência da França”, num tom de causar inveja à líder da Front Nacional, Marine Le Pen.

Bem sei que a velha (e grega) lógica aristotélica não cabe nesta nova Europa, mas não consigo apreciar tanto contorcionismo. Felizmente, há quem consiga. O jornal “Público”, por exemplo, naquela “secção das setas” que agora aparece em (quase) todos os jornais, deu a mesma seta positiva às duas posições de Hollande. Bem sei que não vale a pena, mas vou recordar o óbvio: é defensável um Governo Económico para a Europa, numa lógica mais ou menos federal, de maior integração europeia. Se esse caminho é possível (e desejável) ou não, isso é decerto discutível (eu, por mais que não acredite na exequibilidade desse caminho, reconheço que há bons argumentos em seu favor). O que, contudo, é indiscutivelmente impossível é defender mais “integração” sem menos “independência”. Pourrait comprendre cela, Monsieur Hollande?







Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)


Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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