quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

[Opinião +D] Proteccionista, eu?!...

Pode-se não acreditar na “ideologia dominante”, que atravessa a meio as várias esquerdas e direitas – ou, pelo menos, grande parte delas –, mas, que ela existe, não tenham a menor dúvida. Uma das provas maiores da sua existência é o massivo consenso – positivo ou negativo, conforme os casos – relativo a certos conceitos.

Tomemos como exemplo maior o conceito de “proteccionismo” – o maldito conceito de “proteccionismo”. Um dos espectáculos mais hilariantes da nossa classe político-mediática é que, mesmo quando defendem propostas objectivamente proteccionistas, fazem sempre questão de ressalvar o contrário.
A sociedade, depois, faz eco deste preconceito, de forma por inteiro acrítica. Qual mantra dos nossos tempos, é preciso sempre dizer, com a toda a convicção, que se é “contra o proteccionismo”. Mesmo ou sobretudo quando essa convicção é de facto acrítica, porque não se sustenta, minimamente, em qualquer argumento. É uma pura petição de princípio ou, se preferirem, uma “posição de fé”. É-se contra o “contra o proteccionismo” porque sim e isso parece bastar.

O espectáculo é tanto mais absurdo porquanto, como é cada vez mais evidente, foi esta visão anti-proteccionista uma das causas maiores da crise a que chegámos. Sobretudo em Portugal, onde, mais do que em qualquer outro lugar, se fez eco desse mantra do anti-proteccionismo. De resto, em Portugal, não só se faz questão em se ser anti-proteccionista como em denunciar o suposto proteccionismo dos outros. Com os resultados que estão à vista.






Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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