Já o pensamento filosófico, ao invés, emerge de uma lógica bem diferente. Decerto, nunca ocorreu a um Filósofo digno desse nome escolher, apenas para dar um exemplo clássico, entre “Uno” e “Múltiplo”. Pois que, filosoficamente, não se trata de escolher mas de acolher e integrar todas as contrapolaridades numa única visão. Só assim esta será uma visão ampla, filosófica, e não estreita, dilemática.
Para usar uma imagem de um Filósofo digno desse nome (falamos de José Marinho, provavelmente o maior Filósofo português do século XX), do que se trata, ainda e sempre, é de realizar essa “espiral que com a sua maravilhosa adunação abraça e funde, prevê e espera abraçar e fundir sem violência, todo o diverso revelado e possível”. Eis a “espiral” que representa, para o nosso pensador, o próprio “conhecimento da verdade”. Realiza ela a adunação de toda a diversidade, realiza-a ela de tal modo que essa adunação se cumpre “sem exclusão da mesma diversidade”.
Analogamente, não temos que escolher entre “conservadorismo” e “progressismo”, ou entre “tradição” e “inovação”, como a todo o momento o pensamento dilemático nos propõe. Nem é preciso recorrer a nenhum Filósofo digno desse nome para o perceber. Basta olhar para a própria Vida. Basta o saber da Vida para percebermos que não há real progresso se não se conservar, ao mesmo tempo, o que houver a conservar, que não há verdadeira inovação que se possa afirmar por negação da tradição, o que seria tão absurdo quanto defender que uma árvore só cresce se destruir as suas raízes…
Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
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